Entrevista – Thiago Moreira

“Depois que você conhece pessoalmente, tudo fica diferente, a sensação de dividir a pista com alguém conhecido. Não sei explicar, mas se torna diferente”. Este é o tom da entrevista de Thiago Moreira, que conta suas histórias e encontros com novos amigos feitos através do F1BC.

Por Rodrigo Wizard

O F1BC buscou um dos pilotos mais tímidos para dar entrevista. Mas Thiago Moreira, de 26 anos, teve muito a contar. Suas experiências em encontrar uma galera do automobilismo virtual na realidade, e a amizade construida com estas pessoas, rendeu boas histórias. Residente em Curitiba (PR), ele está na chamada “capital do automobilismo virtual”, o ponto de encontro mais usado por esta vasta turma.

Thiago começou como muitos, acompanhando corridas ao vivo na RaceBrasil e no F1BC, e daí em diante se esforçou para estar neste meio. Ao longo desta carreira de piloto virtual, ele tem um recorde um tanto inusitado: é o maior vice-campeão do clube, até agora por cinco oportunidades. Azar ou consistência? Ele faz questão de responder.

Thiago está na fase dos trabalhos mais estudos, encontrando seu caminho profissional, como estudante de Análise de Sistemas. E tem de encontrar em uma boa organização pessoal sua maneira de estar em um hobby que exije uma dedicação, pelo menos para obter os ótimos resultados que ele consegue.

F1BC – Conte um pouco o que você faz da vida atualmente.
Thiago Moreira – Trabalho durante o dia, estudo na faculdade a noite, Análise de Sistemas na Federal (UFPR).

F1BC – Como é conciliar trabalho e estudo com este hobby?
TM – Não tenho muita dificuldade para conciliar os três, utilizo mais o fim de semana para fazer as coisas da faculdade e durante a semana uso para o ‘AV’. A pior época para isso é quando chega a semana de provas, aí o tempo para o ‘AV’ diminui durante a semana.

F1BC – E com a dedicação de treinar para obter os bons resultados que você tem?
TM – Sobre a dedicação nos treinos, no começo basicamente nas minhas duas primeiras temporadas no F1BC, eu treinava a semana toda, fazia mais de uma simulação para a corrida e também treinava várias vezes apenas a entrada de box, para perder o menor tempo possivel nelas. Hoje já é bem diferente, depende bastante do quanto eu conheço a pista, se eu a conheço bem meus treinos começam na quarta-feira que antecede a corrida, se eu não conheço a pista eu já dou algumas voltas no domingo a noite, mais para decorar o traçado, e retomo os treinos na quarta feira mesmo, para mim três dias de treino já estão de bom tamanho. Eu consigo meus melhores resultados na Turismo Pro, e acho que isso é devido ao fato de ser o carro que mais andei, desde a temporada 2009/3, entao acostumei bastante com ele e isso faz com que eu não precise mais de muito treino.

F1BC – Como você começou no automobilismo virtual?
TM – Comecei assistindo à RaceBrasil por acaso, me interessei e fui atrás das ligas para ver qual era mais interessante entrar, qual tinha o ambiente mais legal. Foi na segunda temporada de 2009, em abril.

F1BC – Você encontrou sozinho ou algum amigo indicou a atividade?
TM – Foi sozinho. Não lembro direito como foi, mas vi em algum lugar no Orkut algum comentário sobre corridas, aí caí na RaceBrasil, e depois no F1BC.

F1BC – Como foi a sua primeira experiência, seu primeiro campeonato?
TM – Meu primeiro campeonato foi meio difícil, eu não tinha setup do carro e ficava atrás de informações, então tive mais contato com a Dani [Ferraz] e o Diogo [Leal] que me passavam dicas. Aí saiu um resultado bom na primeira etapa da Formula Light e isso me deu entusiasmo de continuar. Sempre tive medo de correr com os outros e levar muito tempo, tomar volta, mas o resultado foi bom e isso me animou.

F1BC – E então começou sua história em equipes, se me lembro bem foi pela Panthers com estes dois.
TM – Acabei indo junto com o [Thiago] Medeiros, que também me ajudou neste primeiro campeonato, e formamos a Panthers junto com o Leal e a Dani. Foi legal correr pela primeira vez assim, no formato de equipes, todo mundo se ajudando e treinando juntos, foi bem melhor.

F1BC – Depois, você foi para outra equipe, que começou se chamando RealGame e terminou chamando Vakuum, e pareceu ser sua passagem mais marcante em uma escuderia até agora. Como foi esse seu relacionamento com aquela turma tão unida?
TM – Depois de metade da temporada na Panthers, vi um tópico do Vini [Drey] chamando o pessoal pra treinar, e eu acabei indo. Apareci em todos os treinos que eles ficavam fazendo, e isso despertou interesse da equipe. Eles queriam aumentar o número de pilotos e me chamaram, também o [Thiago] Medeiros. Sempre tive um contato com o Drey, e com o Ronan [Mendina] por ser de Curitiba, depois com o [Cristian] Rizzi. Depois surgiram problemas na equipe, ela se desmanchou, mas nós continuamos amigos, pois não seria a equipe que acabaria com a amizade que criamos esse tempo todo.

F1BC – Você citou que tem proximidade com o Ronan por ser de Curitiba. Mas você também já conheceu muitos outros pilotos do clube porque o F1BC já fez encontros em sua cidade. Como você lida com estas amizades?
TM – Foi bem legal ver todo mundo junto. Antes disso, você só conhece o piloto pela pintura do carro e pelo nome no parabrisa, então foi legal ver o rosto de cada um, conhecer mesmo. Depois que você conhece pessoalmente, tudo fica diferente, a sensação de dividir a pista com alguém conhecido. Não sei explicar, mas se torna diferente.

F1BC – E quem te surpreendeu mais quando você conheceu pessoalmente?
TM – Foi legal conhecer o [Cristian] Rizzi, que veio do Rio Grande do Sul sozinho para nos conhecer, na correria do trabalho achando um tempinho pra vir, foi bem legal, só reforçou os laços de amizade que a gente tem. Mas toda a galera é muito legal, muito divertida. Pena que eu não consegui participar dos encontros nos bares, porque sempre coincidiu outro compromisso, e só pude vê-los no autódromo, onde todo mundo presta atenção na corrida e não dá tempo de falar com todos, então eu espero encontrá-los mais vezes.

F1BC – E depois você fez o caminho inverso, e foi com o Ronan para o Rio Grande do Sul encontrar o Cristian e o Vinicius?
TM – Na última semana do ano passado (2010), o Vini me convidou “na louca” pra ir lá passar o final de ano com ele, e nós meio loucos também, aceitamos. O grupo mais próximo era nós quatro, então deu certo de conhecer o quarto membro que faltava, que era o Drey. Passamos o final de ano lá, conhecemos a família dele, só não conseguimos rever o Cristian porque ficou muito em cima da hora e os horários não bateram. Mas foi muito legal reforçar mais esta amizade.

F1BC – E voltando para as pistas, você tem um recorde que para muitos é ingrato, de ser o maior vice-campeão do F1BC, mas pra mim é sinal de muita regularidade e consistência de estar disputando títulos. Como é esta rotina de estar sempre no páreo?
TM – Esse recorde foi surgindo por acaso. Começou já no primeiro campeonato, disputando com o [Fernando] Passos, onde ele foi campeão, mas a distância de pontos era grande e eu sabia que só conseguiria o vice, mas isso me motivou a seguir me dedicando. Depois corri no F1BC Rally, que era intertemporada, e eu e o Medeiros já na Panthers acabamos tendo bons resultados. O Thiago Medeiros dominou o campeonato, e sobrou pra mim disputar o vice com você na última etapa.

F1BC – Aham (mude de assunto por favor)…
TM – Depois foi na Turismo Classic, que fui sempre correndo ali no meio do pelotão, e no final tinha pontos para brigar pelo título, mas mais uma vez foi por uma grande diferença para o líder, que era o Adriano Pinheiro, que acabou sendo campeão. Na Turismo Classic tive os maiores vices. Depois foi aquela que estavam na disputa eu, [Daniel] Krauze, [Stefano] Cecin, e [Rafael] David, e no final o Krauze, que tinha menos chances de vencer, acabou ganhando. Essa foi por pura afobação minha, disputei a corrida com quem não estava disputando título, e no final acabou acontecendo um toque que tirou a vantagem que eu tinha para o Krauze. Até me surpreendi, achei que seria o campeão, aí me falaram no rádio que o Krauze era o líder, e aí caiu a ficha. E por último a Turismo Pro, que foi uma surpresa por disputar com o Gustavo Yanez, que é muito forte. Acabei chegando no final com um resultado bom, e foi a vez que fui mais tenso para uma final, treinei bastante, mas pequei de novo por disputar com quem não era concorrente direto, e isso me trouxe erros onde joguei fora o campeonato. Estava na frente de muitos carros mais leves [de lastro], e quis andar tão forte quanto, e acabei forçando onde não dava. Mas fiquei na pista até o fim para pelo menos garantir o vice.

F1BC – E de todos estes cinco, qual foi a briga mais dura que você teve? Qual foi o campeão mais duro?
TM – Eu destaco essas duas últimas. Na Turismo Classic o Rafael David o tempo todo foi meu adversário, e foi uma situação diferente, treinar junto com o adversário, um querendo ser mais rápido que o outro, na classificação, depois na corrida andando junto com ele, e naquela situação “será que ficando na frente estou atrapalhando ele? Ele pode ter um melhor resultado que eu”, pensando na equipe, e ele se comunicando sempre comigo. Pena que na última etapa nenhum dos dois conseguiu o título. E na Turismo Pro por disputar com um grande do automobilismo virtual que é o Yanez, junto com outros.

F1BC – De todos os pilotos, qual você aponta o mais forte da atualidade?
TM – Dos com quem eu corro atualmente, é o Gustavo Yanez. Até nesta última etapa que corremos, conversando, ele me disse o tempo dele, e não tem discussão, ele é mais rápido. Junto tem o Rodrigo Barônio, Fagner Roberto, Bruno do Carmo, e outros que eu esqueço mas que são muito bons.

F1BC – E nós estamos entrando em uma era onde muitos simuladores começam a aparecer. Além do rFactor, tem o game da Stock Car, o iRacing, o aguardado rFactor 2. De tudo isso, o que mais te empolga? e Qual sua prioridade atualmente?
TM – Minha prioridade é o iRacing. Quando comecei a jogar um simulador, que é o rFactor, achei impressionante escapar da pista e ali no meio ter uma ondulação, perdendo o controle do carro. Me passou uma sensação de realismo. Mas com o passar do tempo isso foi diminuindo, até que conheci o iRacing e a sensação de imersão na simulação, na atmosfera da corrida, voltou a aparecer. Estou esperando para sair o rFactor 2 e testá-lo, esse é o de maior expectativa. O da Stock Car não acho que será muito bom.

F1BC – Quais categorias mais te empolgam atualmente?
TM – A que mais me empolga é a Turismo Pro, por causa do carro difícil, pelo nível dos pilotos, e acho muito legal correr com aqueles caras. Uma que me empolgo em assistir é a GT Pro, onde o nível também é muito alto. Também gosto de Formula, mas a falta de treino não me deixa, pois eu não consigo chegar em um tempo bom com dois dias de treinos igual acontece com alguns feras, eu tenho que treinar um pouquinho cada dia, e acabo decidindo me focar em poucos campeonatos.

F1BC – E sobre o automobilismo real, quando você começou a acompanhar?
TM – Nem lembro a idade que comecei, mas foi Fórmula 1. Não lembro muita coisa, mas desde os cinco anos já acompanhava. É a categoria que mais acompanho, o resto não me chama tanta atenção, no máximo a Indy chama um pouco.

F1BC – Como está atualmente seu relacionamento com sua nova equipe, a Pro Chiara?
TM – Estou gostando muito de fazer parte da Pro Chiara. O melhor de tudo foi que, além de mim, todos os meus amigos da antiga equipe puderam entrar também, quando a Vakuum acabou meu objetivo era continuar junto de todos eles e foi muito bom saber que na Pro Chiara isso seria possível. Estar no box com o pessoal é demais, o tempo voa quando estamos reunidos, o ambiente é sempre de muita descontração e isso acaba ajudando muito nos treinos, pois não fica aquela coisa massante de dar voltas e voltas e ficar mechendo no ajuste do carro, e por incrível que pareça, as melhores voltas acabam saindo nos momentos que estamos nos divertindo mais. A unica exceção é quando o Cozza resolve narrar as voltas dele, ai o treino para, porque não dá pra se manter na pista.