Entrevista – Rafael Ganecci

Pioneiro do F1BC e participante da primeira corrida oficial do clube, paulista relata como foi sua atuação nas temporadas em que participou, porque desistiu de competir virtualmente e o que pensa do estágio de profissionalização do AV.

Por Leonardo Felix

Um dos pioneiros do F1BC, Rafael Ganecci, ou simplesmente “Deco”, sentiu na pele toda a precariedade de uma liga que iniciava suas atividades sem muitas referências, em uma época cujos jogadores dispunham de teclados, servidores domésticos e extremamente instáveis, simuladores não tão fidedignos, entre outras dificuldades. Por ter feito parte da fase mais amadora e, quiçá, divertida do F1BC, Deco é o escolhido para estrear o quadro de entrevistas Lucky Dog.

Era justamente o amadorismo e o companheirismo dos participantes da liga que fascinavam o paulista de São Caetano do Sul. “Dava para se divertir com colegas de internet e, ao mesmo tempo, matar uma vontade, que era correr dessa forma, e não somente em dupla, como no videogame”, afirmou Deco, que teve sua primeira experiência com simulador automobilístico no Nintendo 64, pelo jogo “F1 Pole Position”.

Ao contrário do que pensam muitos dos pilotos virtuais atraídos pela organização e profissionalismo que impregnam cada vez mais o universo do AV e do F1BC, Rafael Ganecci é entusiasta do amadorismo e espírito amistoso que faziam parte daquele universo de início do clube. Conforme você pode conferir na entrevista a seguir, foi justamente a profissionalização do clube que o afastou das competições. Não sem deixar boas estatísticas. Em 42 largadas, foram oito pódios, sendo uma vitória, e três voltas mais rápidas anotadas. As opiniões do ex-piloto virtual, hoje com 20 anos, provavelmente diferem das da maioria dos atuais integrantes do F1BC, mas são coerentes e válidas para uma reflexão sobre os rumos que o automobilismo virtual vem tomando.

F1BC – Começando a falar sobre sua história com automobilismo virtual. Qual foi o seu primeiro contato com um simulador de automobilismo?
Rafael Ganecci – Acho que foi o F1 Pole Position, do Nintendo 64. É o que lembro. Um jogo bem arcaico, tosco, mas me divertia.

F1BC – E quando você começou a competir online?
RG – O ano eu não lembro, mas foi quando criaram o F1BC, naquele mod de 99 [do F1 Challenge], lá. 2004?

F1BC – Nem lembro o ano também. Acho que foi 2005.
RG – Old.

F1BC – Bem old. E o que você achou dessas competições, a princípio? O que você sentia competindo contra outras pessoas, mesmo que a distância?
RG – Achei legal. E interessante também, porque dava para se divertir com colegas de internet e, ao mesmo tempo, matar uma vontade, que era de correr dessa forma, com outras pessoas e não só em dupla, como costuma ser no videogame.

F1BC – Agora, eu e você pegamos os primórdios do F1BC, então nós sabemos como a gente sofreu para se organizar e tudo. Quais eram as principais dificuldades que você sentia, quando ia correr?
RG – Servers instáveis, uma certa confusão na hora de organizar a corrida e a distribuição de carros para os pilotos.

F1BC – Você correu quantas temporadas no F1BC?
RG – Três. Uma com o mod 99, outra com o 2002 e a última com o mod TR 07 [do F1 Challenge].

F1BC – Conte-nos um pouco de cada uma dessas temporadas nas quais você correu e como foi seu desempenho geral em cada uma delas.
RG – A primeira temporada foi bastante confusa, o que levou a algumas desavenças. Teve também a troca de equipes no meio da temporada, que, a meu ver, prejudicou alguns competidores, embora tenha me favorecido e fez com que, na primeira corrida pela equipe nova, que era a Ferrari, eu conquistasse minha primeira vitória, em Magny-Cours. De modo geral, fui mediano, até porque eu era um rookie. Já na segunda, houve uma evolução fabulosa em todos os aspectos: organização, comprometimento e, claro, meu desempenho (risos). Foi uma temporada na qual não venci, mas cheguei bastantes vezes ao pódio e, no fim, acabei terminando em terceiro (tenho quase certeza disso). Foi bastante proveitoso. A temporada que usou o mod TR 07 já mostrou claros sinais de que, dali em diante, seria algo mais profissional. Mais gente entrou, o que fez com que houvesse divisão de servers de acordo com a classificação. Eles meio que faziam meio a meio e mandavam correr. Foi aí que me desinteressei pelas corridas. Eu curtia o amadorismo de antes, sem contar que algumas regras às quais eu não concordei foram criadas para tentar promover uma igualdade inexistente.

F1BC – Entendi. Então essa profissionalização do AV, que hoje é ainda mais latente, foi o que te afastou das corridas?
RG – Não somente, mas foi o principal motivo. Aquela “obrigação” de ficar plantado na frente do PC nas noites de domingo para correr meia hora também me fez abandonar as corridas.

F1BC – Mas você considera bons os momentos que você passou durante as temporadas que você fez ou se arrepende de ter entrado nessa?
RG – Considero sim. No fundo, me orgulho de ter participado disso e, de certa forma, ajudado a melhorar o campeonato.

F1BC – Você falou que venceu sua primeira prova em Magny-Cours. Essa foi a corrida da qual você mais se lembra ou tem alguma outra em mente?
RG – Me lembro muito bem de uma na Áustria, na segunda temporada. Tive uma grande oportunidade de vencê-la. Fui o único que conseguiu andar no ritmo do Wizard e até cheguei a liderar por um tempo. Fui bastante pressionado e perdi a liderança. Foi uma ótima disputa, até eu rodar por forçar uma ultrapassagem na penúltima volta. E o pior de tudo é que ele estava economizando combustível, então a vitória era certa.

F1BC – Puts, que pena. E a sua primeira vitória, como foi?
RG – Foi bastante conturbada, porque o server estava terrivelmente instável, cheio de lags. Considero uma corrida de menos erros e de sorte, também. Não fiz muitas besteiras por causa do lag. Soube me manter na pista e venci.

F1BC – Se te convidassem hoje para competir, então, você não aceitaria? Ou ainda existe aquela vontade reclusa de correr, nem que seja de vez em quando?
RG – Oficialmente, num campeonato, não correria. Mas esporadicamente, nas famosas “for fun”, por que não?

F1BC – Legal. Agora, mudando de assunto. Você está estudando, fazendo faculdade, trabalhando?
RG – Só estudo, na Universidade Federal do ABC (UFABC). Faço Ciências e Humanidades, um curso novo que surgiu aí, para depois fazer Economia.

F1BC – Você já disse que, para correr, preferia o amadorismo de antes, aquele clima mais amistoso, de confraternização mesmo. Hoje o AV virou quase profissional e vem crescendo muito. O que você pensa a respeito disso? Você acha que isso pode ser tão famoso e importante quanto o automobilismo real ou prefere que não?
RG – Particularmente, acho que foram longe até demais. Acho que quase todos, se não todos, usam volante, pedal, correm com seriedade mesmo. Se valesse realmente alguma coisa, bacana. Mas não vale. E também não gosto muito da ideia de fazer coisas grandiosas e profissionais envolvendo jogos que têm por objetivo entreter e divertir. E acho que não será tão famoso quanto o automobilismo real, apesar de existirem pessoas que eram craques em simuladores oficiais ganharem a chance de serem pilotos na vida real e até obterem resultados expressivos.