Entrevista – Jorge Pezzolo

Formado em Artes Cênicas, o paulista de Santo André divide as paixões por teatro e cinema com o gosto pelo automobilismo e relata como nasceu a Pezzolo TV e como surgiu o interesse pelo automobilismo virtual

Por Leonardo Felix

Os frequentadores da comunidade do orkut Fórmula 1 Brasil de meados dos anos 2000 certamente não estranham ao ouvir ou ler o nome de Jorge Pezzolo. Um dos membros mais ativos daquele espaço em seus tempos primórdios, o paulista de Santo André sempre demonstrou apreço por debater questões relacionadas ao automobilismo e expor suas opiniões. O resultado não poderia ser outro: alguns anos depois, Pezzolo geria um blog, que rapidamente ganhou repercussão entre os entusiastas da velocidade.

Diferente de outros blogs, que contavam apenas com textos e imagens, Jorge incrementou o seu espaço na rede ao criar e editar vídeos, inovação que ajudou ainda mais a lhe dar destaque. Para isso, ele aproveitou seus conhecimentos de produção cinematográfica apreendidos no curso de Artes Cênicas da USP. O conteúdo era sempre acompanhado de comentários diretos e sem papas na língua “Eu sofri duras críticas por conta disso, até aprender a pegar mais leve e pesar os dois lados antes de dar uma opinião”, confessa.

Quanto mais aprendia a lidar com o universo digital e com o público, mais Jorge Pezzolo evoluía o videoblog para o que hoje é a Pezzolo TV. O sucesso da empreitada rendeu a ele oportunidades de cobrir in loco eventos como o GP Brasil de Fórmula 1, a São Paulo Indy 300, o Rali Dacar na Argentina e a Porsche Cup. Nessas coberturas, o blogueiro de 29 anos viveu momentos divertidos, mas também viu de perto a tensão de relatar situações como o acidente fatal de Gustavo Sondermann, na Copa Montana da Stock Car.

No último ano, Pezzolo se deixou dominar pela febre do automobilismo virtual. O que, de início, era apenas uma estratégia para divulgar seu site e angariar novos visitantes, transformou-se numa paixão que o levou a se dedicar cada vez mais às competições. A evolução culminou em sua primeira vitória no clube F1BC, obtida na etapa de Vancouver da Indy Junior, na última temporada. Os bons desempenhos lhe fizeram desistir das categorias fórmula, onde competia sem o mesmo brilho, para se dedicar exclusivamente à Indy Light, onde passará a correr na T2.

Fora do universo automobilístico, Jorge é ator, diretor e está trabalhando na produção de um curta metragem, em sua primeira experiência com cinema. “Acho que não existe outra pessoa que goste tanto, ao mesmo tempo, de artes cênicas e automobilismo”, afirma. De fato, são duas vertentes praticamente distintas, que já proporcionaram conflitos para sua carreira profissional. Por possuir esse histórico tão peculiar e por ser uma figura há tanto tempo ativa entre os amantes do automobilismo da esfera cibernética, Jorge Pezzolo é o escolhido desta quinzena para o quadro Luckydog.

F1BC – Você tem formação relacionada ao teatro, certo?
Jorge Pezzolo – Sou formado em Artes Cênicas pela ECA [Escola de Comunicações e Artes] da USP. Isso deve ser inédito no F1BC, um piloto formado em artes cênicas. Quero ver achar outro.

F1BC – Difícil mesmo. Como você optou por essa área?
JP – Eu me formei ator na Escola Livre de Teatro de Santo André, onde eu moro, que é uma escola referência em todo o Brasil. Eu trabalhava como ator, trabalho até hoje, embora menos, e eu achava que precisava de uma especialização, principalmente na área técnica. Eu me formei diretor na época, foram quatro anos de faculdade. Mas meu trabalho agora mesmo é como iluminador de espetáculos, shows, embora eu atue e dirija também. Eu estou trabalhando agora com um curta metragem, estou começando a trabalhar com cinema, que tem um pouco a ver com o que eu faço na Pezzolo TV. Não teve um planejamento, as coisas foram acontecendo, fui pra uma coisa, depois para a outra e me formei em Cênicas.

F1BC – Você está começando agora com a parte de cinema, dirigindo um curta. Você prefere teatro ou cinema?
JP – É muito diferente. Como eu também estou me formando agora numa escola de cinema, eu estou aprendendo como é diferente uma coisa da outra. No começo, você acha que é parecido, que só muda o fato de filmar o que você faz. E é muito diferente, o cinema é muito mais técnico, é muito mais feito dentro de uma sala, com você e o diretor de fotografia editando e cortando o material, colocando e tirando sons, enfim. E o teatro é o contrário, você ensaia, tem mil coisas, mas ele acontece ali no presente, a partir do momento em que começa o espetáculo. Por mais que você tenha ensaiado, dirigido ou feito algum trabalho antes, ele está ali na mão dos atores. Eu não tenho preferência, não. Acho que cada arte tem sua graça. É claro que é uma profissão e eu acabo me guiando pelo trabalho e os dois são muito difíceis de você conseguir trabalho, ser pago pelo que faz, mas eu acho que ainda na parte técnica, como diretor de montagem de um curta, ou como iluminador de um espetáculo, é mais fácil você sobreviver e tocar sua vida nessa área do que como ator. Ator é uma profissão complicada, a não ser que você busque a televisão, que é algo que eu nunca fui atrás.

F1BC – Quem são suas inspirações em termos de direção. Você prefere um Stanley Kubrick ou um James Cameron?
JP – Eu prefiro o Kubrick (risos). Estou trabalhando no cinema muito agora com David Lynch, acho que o pessoal conhece, de Cidade dos Sonhos, muitos outros filmes legais, e[Roman] Polanski também. Eu estou dando uma olhada agora nesses caras, porque quero fazer uma coisa mais ácida, pesada. Eu estou trabalhando num curta metragem que fala sobre uma mulher, uma chefe de cozinha que perde o sabor das coisas. Chama-se ageusia a doença, quando uma pessoa, por um trauma neurológico ou psicológico, não sente mais sabor de nada. E é sobre isso que a gente está tateando, meio realismo fantástico, essas coisas.

F1BC – Agora, como você, sendo ator e diretor, vinculado à área de artes, foi se interessar por automobilismo? Porque, geralmente, quem gosta de artes não é muito afeito a esportes e vice-versa, embora tenha exceções, lógico.
JP – Isso que você falou é verdade. Acho que eu sou a única pessoa dessa área fanática por corridas. Eu conheço pessoas que gostam das duas coisas, mas fanático, mesmo, acho que só eu. E na verdade eu gosto de corrida antes de escolher essa profissão. Desde criança, aqui em casa, todo mundo assistia, então passou de família. Existe uma coisa muito forte com o futebol no Brasil, mas aqui em casa o futebol nunca prevaleceu, mas corridas eu sempre vi tudo. Eu poderia até ter me formado jornalista e seguido nessa área, mas não foi assim que a vida se desenhou. É curioso, porque eu sempre gostei, mas no momento de escolher onde me formar, a paixão pelas artes, pelo cinema e por teatro foi mais forte que a paixão pelo automobilismo. Talvez, se fosse em outro momento da vida, não teria sido. Mas não sei dizer ao certo, porque sempre uma seguiu junto com a outra e também uma sempre sofreu por causa da outra. Eu já tive de perder corridas por causa de viagens de espetáculos e eu já perdi trabalhos por causa de corrida, então os dois lados sempre foram prejudicados um pouco um pelo outro. E daí eu acho que a questão do site e do blog surgiu. Quando as coisas se estabilizaram e eu me formei, eu pensei: “é uma coisa que eu gosto tanto”. Eu via tanta coisa na internet rodando e teve uma questão muito forte, que foi naquele momento forte do orkut, lá por 2002, 2003, que a gente conseguiu unir uma galera e discutir automobilismo de uma forma séria. E eu era um dos que mais postavam na comunidade [Fórmula 1 Brasil] do orkut, e conheci muita gente. Conheci o Rodrigo [Wizard] ali, conheci a Bárbara [Franzin] ali, mas depois aquilo foi se perdendo, começou a entrar as trollagens, e cada um foi para um lado. Chegou uma hora que eu não tinha mais lugar para escrever sobre automobilismo e aí eu falei: “vou criar o meu”, e aí surgiu tudo. E como eu estudava cinema, produção de vídeos, pensei: “se eu sei fazer isso, posso tentar fazer em vídeo. Por que eu vou fazer como todo mundo e só escrever? Vou tentar fazer diferente”. E aí surgiu tudo. Mas nada foi planejado. Uma coisa gerou a outra, que gerou a outra e aí surgiu a Pezzolo TV.

F1BC – E quando foi isso?
JP – Acho que em 2006. É isso mesmo. Começou em 2006 e a primeira temporada que eu cobri na íntegra pelo blog foi a de 2007, quando o [Kimi] Raikkonen foi campeão.

F1BC – Eu lembro até que você publicou um texto meu uma vez, sobre o GP da Itália de 96, em que botaram umas barreiras de pneus ridículas na parte interna das chicanes de Monza e uns 10 pilotos saíram da prova por causa disso.
JP – Mas eu publiquei sem dar crédito?

F1BC – Não (risos). Você me perguntou se podia, eu deixei e você publicou.
JP – Ah, bom! Que susto. Já ia ficar com vergonha (risos). Eu pergunto isso porque, no começo, eu era muito louco, fazia as coisas muito na loucura e precisei passar por muita coisa para aprender. Às vezes eu até tento resgatar um pouco daquela loucura na Pezzolo TV, mas eu vejo que não é mais a mesma coisa. Porque, quando estreou, eu não estava nem aí com essas questões de direito autoral, direito de imagem, de dar crédito, público alvo, isso não existia. O que vinha na telha eu escrevia, sabe? Falava mal dos pilotos sem dó. E foi engraçado, porque acho que foi isso que fez a coisa crescer tão rápido. Mas, por outro lado, foi muito difícil, porque eu recebi muita crítica. Você fazer uma coisa de graça, porque gosta, e receber uma avalanche de críticas, você fica: “mas o que incomoda tanto? Por que não posso expressar minha opinião?”, mas depois você vai aprendendo que tem certas coisas que tem que pesar os dois lados, pegar leve, porque se você for na [base da] porrada, muitas vezes, você leva porrada de volta.

F1BC – Eu acredito que, quando você iniciou o blog, você não pensava em fazer cobertura de eventos automobilísticos. E hoje a gente vê que você faz coberturas, não só de corridas, mas também de confraternizações e eventos diversos relacionados à área. Como começou isso? E eu queria que você dissesse também se isso tudo foi bancado por você mesmo e se hoje você já consegue ter algum retorno financeiro dessas coberturas, ou se continua por sua conta.
JP – Eu acho que é caso a caso. A Fórmula 1 e a Indy, por exemplo: são dois carros chefes, que fascinam tanto aos leitores quanto a mim. Então a gente vai meio atrás e tira do bolso mesmo para estar lá. Já com as categorias nacionais, a gente está começando a conseguir apoio. Ano passado a gente fez a Porsche [Cup] durante o ano inteiro. E foi muito legal, eu aprendi muito, e com eles bancando todo o custo de hotel, alimentação, passagens aéreas, enfim. Mas o trabalho mesmo não era remunerado, até porque isso dependeria da Pezzolo TV ter anunciantes que nós não temos ainda. Até deixo o espaço aberto aqui para quem quiser anunciar. O legal para a gente é o volume de convites que a gente recebe. Hoje a gente recebe bastante convite para eventos e festas. Que nem agora, na Indy, recebemos convite para camarote. Então é bacana. Mas eu sempre coloco na minha linha editorial que, se nós podemos entrar no evento, ótimo, mas eu também preciso poder levar minha câmera para filmar e mostrar para quem não pode. Porque por anos eu não pude, então eu sei como é estar na [arquibancada] G e querer saber o que rola no paddock da Fórmula 1. Eu sei o que é estar no sambódromo, durante a Fórmula Indy, que foi onde eu fiquei no primeiro ano, e querer saber o que acontece na garagem. Então eu levo a minha câmera e faço o registro, mesmo que seja com imagem tremida, mas eu ponho na internet para que quem não tenha oportunidade possa entrar no site que está lá. Então nenhuma informação à qual a gente tem acesso é vetada. Porque, se você pensar no tamanho do Brasil e do público que acompanha automobilismo, o número de pessoas que tem acesso a isso é muito pequeno. E às vezes acontecem casos como o da Stock Car, em que uma sucessão de coisas fez com que eu estivesse exatamente na sala de imprensa no momento do acidente do [Gustavo] Sondermann. Naquela hora eu tive que tentar abandonar o lado fã e informar. E aí eu acho muito difícil, a gente se perde um pouco e vê a dificuldade que é. Porque o caso do Sondermann, para mim, foi muito difícil de acompanhar. Eu não sabia o que fazer. Eu não estava preparado, não é o que eu espero ver quando eu acordo para ver corrida em Interlagos. E aí você vê amigo chorando, familiar chorando e não sabe se vai e pergunta o que está acontecendo, se fica na sua, se coloca no twitter que está todo mundo chorando ou se omite a informação. Então é complicado.

F1BC – Era o que eu ia te perguntar agora. Obviamente, fazendo coberturas, você vai passar por situações das mais diversas, desde coisas engraçadas até tragédias como essa do Sondermann. E eu sei também que você já fez eventos fora do Brasil, né?
JP – É, eu fiz o Rali Dacar, a largada ali na Argentina. E eu tinha um projeto pesado para este ano, que era cobrir as 500 milhas de Indianápolis, mas eu posso dizer já que não vai acontecer, por problemas relacionados à Indy Car. Não dá para bancar um projeto desses sem ter um suporte e esse suporte não ocorreu. Mas o Dacar foi divertidíssimo, só que é outra cultura. Mesmo na Fórmula Indy, estando mais perto dos caras, você percebe que uma coisa é corrida do Brasil, onde todo mundo se entende. Outra é quando você está em outro lugar, as regras são outras, o tratamento é outro, as formas de perguntar são outras. Então na Argentina foi muito divertido, muito bizarro, tem o relato na Pezzolo TV para quem quiser. Foi bem amador, na minha opinião, mas foi divertidíssimo. E a Indy é um pouco, não sei como explicar. O americano não tem essa coisa de você entrar no papo, quebrar um pouco o gelo e quebrar a marra do piloto, como acontece com os pilotos brasileiros. O piloto e o engenheiro americano desconfiam de tudo que você pergunta, então não tem como chegar simpático, “e aí, tudo bem? Como é que você está?”.

F1BC – Voltando ao acidente do Sondermann, eu gostaria de saber o seguinte. Para nós, que estávamos de fora, foi muito estranho, porque primeiro chegou a informação de que tinha sido um acidente grave, depois falaram que ele não corria riscos de morrer e, de repente, veio a notícia de que ele estava morto. Para quem estava lá, com acesso privilegiado, entre aspas, às informações, quais eram as informações que chegavam? O pessoal já estava dando como iminente a morte dele ou vocês também tinham relato de que ele iria sobreviver e foram surpreendidos com a notícia da morte?
JP – Como eu falei, foi um dia muito complicado. Eu não sou jornalista, então é difícil avaliar o que eu vi ali. Porque, além de saber que aconteceu um grande acidente na pista e ver isso pelos bastidores, você entra num lugar onde as pessoas estão competindo. Então o que eu senti ali foi uma grande competição e nem sei se era uma competição para ver quem dava a informação certa. A sala de imprensa da Stock é muito grande, então você acaba procurando se nortear pelas pessoas e veículos que você já conhece. E eu observei o pessoal de um veículo totalmente fechado, num canto, entre eles, e só uma repórter correndo para lá e para cá atrás das informações. E esse veículo estava colocando que o Sondermann estava super mal, num estado delicado. E, por outro lado, eu via a assessoria da equipe do Sondermann, que colocava que era para ter calma, que estava tudo bem, que ainda não havia um parecer, embora desse para notar como as pessoas da própria assessoria estavam abaladas. Então tinha esses dois lados, um pendendo pra versão mais pessimista e outro tentando mostrar que as coisas não estavam tão ruins. E chegou uma hora que essas duas partes começaram a se estressar verbalmente uma com a outra na sala. E eu lá atento, tentando pescar informações, já que eu não tinha acesso exclusivo a nada. Teve pessoas falando que estavam tentando colocar o homem no caixão antes da hora, que não era para ficar especulando, até que a assessoria da Stock Car tentou amenizar o conflito colocando o dr. Dino Altmann para falar, que é até a entrevista que tem lá na Pezzolo TV. O Altmann falou que eles conseguiram recuperá-lo e que ele foi estável para o hospital. A impressão que deu é que ele estava em estado grave, mas não corria riscos de morrer. E quando eu cheguei em casa e descobri que ele tinha morrido, achei uma situação muito estranha.

F1BC – Bem estranho mesmo. Mas vamos mudar esse assunto para algo mais leve, né? Vamos para o automobilismo virtual. Como você conhece o AV e por que se interessou?
JP – Isso aconteceu meio por acaso. Uma coisa levou à outra. Já conhecia o Rodrigo e sempre tive contato com ele, de nos encontrarmos no autódromo durante eventos e tudo. E ele sempre falava do F1BC. E eu lembro que na reunião em que a gente criou a Pezzolo TV o Rodrigo estava presente, por mera coincidência, porque ele não fazia parte do projeto, e ele falou do F1BC. Eu fiquei impressionado com o tamanho das coisas que estavam acontecendo. E foi nessa reunião que eu quis aproximar a Pezzolo TV e o F1BC, sem conhecer direito o que era. Eu não tinha rFactor, jogava GP4 às vezes só, porque gostava, também nunca tive volante. Nisso eu comecei a usar o fórum do clube e o [William] Trajano me convidou para correr na MIG e falou que pintava o logo da Pezzolo TV nos carros e foi assim, sem planejar. Eu estreei de teclado, para você ter ideia, num GP da Fórmula Junior na Turquia, onde eu tomei umas 400 voltas do líder e aí eu fui ter noção de onde eu estava me metendo (risos). Fui para a classificação achando que ia ganhar de tecladão, aí tomei 10s do primeiro colocado e pensei “puts, o que eu estou fazendo aqui?”. E eu gostei tanto, fiquei tão nervoso na hora… A sensação de um GP no F1BC é muito próxima do real, porque é uma tensão absurda e você tem que ter uma concentração muito grande. E aí eu pensei: “ou eu desisto, ou eu compro a briga e sigo em frente”. Como eu não sou de desistir, segui em frente. E foi muito difícil o começo, porque eu comecei a treinar no meio da temporada. Então as minhas primeiras corridas foram um desastre, eu tomei DQ e atrapalhei muita gente. Até que em uma etapa, acho que na Alemanha, eu comecei a pontuar e aí eu comecei a entender melhor. Para a T3, eu comprei um volante, um Momo usado, e aí acho que dei um salto. Demorei para me adaptar ao volante, mas aí eu comecei a perceber o que eu tinha que fazer para competir de igual para igual, porque o nível é muito alto. A MIG me ajudou muito nisso. Eles nunca me criticaram e entenderam o tempo que eu precisava para conseguir andar no bolo. E aí a coisa deixou de ser apenas um instrumento a mais para divulgar a Pezzolo TV e passou a ser uma paixão, uma coisa que eu faço, gosto e me divirto. E quando eu venci a primeira prova, em Vancouver, pensei: “agora eu posso dizer que eu tenho uma carreira, não estou aqui só pra encher grid”.

F1BC – Essa vitória, que veio agora no fim da T1, demorou mais ou menos do que você imaginava? E o que você sentiu ao cruzar a linha e se dar conta: “puta, eu venci”?
JP – Acho que é isso mesmo: “puta, eu venci” (risos). Foi um tesão, foi demais. Acho que foi uma das maiores alegrias que eu tive, posso dizer, na vida. Não é questão de esperar ou não [pela vitória]. Eu vinha de resultados muito bons na minha primeira temporada de Indy, e aí você ganha confiança. Sem expectativa nenhuma, eu consegui chegar em quinto, sexto, quarto, e aí pensei que podia dar certo. Eu entrei na T1 muito forte, com muita vontade. Liderei a primeira etapa em Daytona e tudo, mas aí uma série de coisas começou a dar errado. As estratégias davam errado por bobeiras. Levei uns toques absurdos, de piloto levar DQ e até suspensão, e eu pensando: “puts, nas duas vezes, foi acontecer logo comigo? Tem tanto carro aqui, vai acertar outro”. Tive uns problemas de lags também, que me atrapalharam. E eu andando sempre bem, o carro sempre bom, o Masson ganhando corrida e eu pensando: “puts, será que não vai vir?”. Não falo nem de vitória, mas de pódio mesmo. E aí veio Vancouver, onde aconteceu exatamente o contrário de tudo o que tinha acontecido. Tudo o que deu errado nas outras [etapas], deu certo em Vancouver. Eu assisto ao VT da corrida e vejo os momentos em que eu tive uma sorte muito grande, em que eu arrisquei e deu certo. Então todos os riscos de Vancouver, que é uma pista complicada, deram muito certo. A felicidade da vitória é, em primeiro lugar, você romper uma porta de “ah, eu quero ser” e passar a ser. Então agora eu não quero estar no F1BC, eu estou no F1BC e corro de igual para igual com qualquer um aqui. E também você relaxa muito. Você tem uma tranquilidade de saber que tem competência para fazer, que é só as coisas funcionarem, as oportunidades surgirem e você vai estar lá.

F1BC – Eu queria que você explicasse uma coisa. Você começou correndo na Fórmula Junior. O que te levou a ir para as competições de Indy, já que são categorias tão diferentes? Porque hoje eu acredito que teu nome esteja mais vinculado à Indy do que à F-Junior, né?
JP – O que acontece é que eu acho que a equipe da Indy Junior deu muito certo. Eu, [Rodrigo] Masson, Alberto [Ribeiro] e Tonny [Peixoto] criamos uma amizade entre nós, então acho que daí veio o crescimento. Eu fiquei fascinado pelas corridas de ovais, desde a primeira que eu corri. A corrida de fórmula é muito desgastante, é muito física, não sei explicar direito. As poucas vezes em que eu consegui andar bem de Fórmula Junior, eu saía destruído fisicamente. E na Indy, tanto nos ovais quanto nos mistos, o que até me surpreendeu, eu achei o carro mais prazeroso de pilotar. Eu me diverti durante a corrida inteira de Vancouver, porque o carro era uma delícia de pilotar. Eu não sei explicar a diferença, mas o que me motivou também é que, nos ovais, do primeiro ao último minuto, eu quero e tenho possibilidades de ganhar a corrida. Então a estratégia é toda pensada para que, mesmo que eu esteja agora em 13º, eu esteja em primeiro no fim da corrida. Já no fórmula, depois de cinco minutos de corrida, você vê que está andando bem atrás do primeiro, então você já sabe que não vai ser primeiro. Você pode ser o quinto, 10º, mas primeiro vai ser muito difícil. Isso fez com que eu focasse mais minha carreira na Indy. E tem a questão da equipe. A MIG sempre teve presença forte na Fórmula Junior, mas na Indy a gente criou um time mesmo e essa T1 foi eletrizante. Da primeira à última corrida foi todo mundo discutindo acerto e estratégia e tudo mais. Por isso eu optei, para a T2, em ficar só na Indy, já que agora eu fui para a Indy Light. Eu estou muito feliz e é onde eu quero continuar agora.

F1BC – E quais são suas expectativas para essa primeira temporada na Indy Light?
JP – É mais difícil. Eu tenho noção que estou correndo em um nível muito mais alto que na Indy Junior, não só de pilotos, mas porque o carro é muito difícil. Mas eu estou confiante e bem animado, porque eu tenho uma tocada muito suave de corrida. Na Indy Junior eu até me deu mal por isso, porque esse chassi que adotaram, o Dallara, é um tanque. Então eu via pilotos tocando roda, arriscando tudo e não acontecia nada com eles. Eles chegavam em quarto, terceiro e eu em 10º, 11º. Aí eu tive que ser mais agressivo para poder andar junto. Na Indy Light o carro é bem mais difícil, então eu vou voltar a esse estilo mais suave, procurar não dividir curvas por muito tempo e fugir das confusões. Se bem que às vezes acontece de você se irritar com algum bracinho de foca e ir para a dividida. Mas como o carro é complicado e qualquer erro vira um big one, eu vou tentar essa estratégia nas primeiras etapas. E também é uma questão de correr com uma equipe. Então agora é sentar com o Masson, o Trajano, que também vai correr com a gente, e com o Tulleh [Gracco], e decidir o que cada um vai fazer na corrida. Mas se eu vir que [a tática] não está funcionando, aí eu mudo a chave do botão cuidadoso pro agressivo e vou para cima. Porque a gente cresce e quer melhorar os resultados e eu quero ir para a Indy Light para disputar pódios e vitórias. Não existe essa de largar pensando em chegar em 10º.