Entrevista – André Neves

O piloto, narrador, chefe de equipe e ex jogador semi-profissional do Grêmio Barueri conta suas experiências com o AV, desde o choro em sua primeira vitória até os caminhos para se tornar parte da equipe de organização do F1BC

Por Leonardo Felix

“Believe in yourself”. Talvez só André Neves realmente acreditasse nessa frase que carrega em seu capacete quando completava as provas da extinta liga OGP Series há duas voltas do líder. Seguindo essa filosofia, o paulista de Lins, que hoje mora em Adamantina, conseguiu evoluir e estreou no F1BC sempre andando no ritmo dos pelotões de frente. O grand chelem conquistado etapa de Istambul da Formula Junior, temporada 2011/1, foi o ponto alto e a recompensa por seu esforço. Neves sabia disso e não escondeu o choro durante a entrevista do pódio.

Após entrar no F1BC, André descobriu outros talentos ocultos. O linense se tornou, de longe, o membro mais ativo do fórum clube. “Fui chamado muitas vezes de spammer e flooder por conta disso”, relembra. Depois, aventurou-se na função de narrador e, mesmo sem nenhum treinamento ou teste prévio, conseguiu dar conta do recado. Ainda, ajudou a fundar a equipe OGP Racing, que reuniu participantes do antigo campeonato OGP Series, e mostrou grande espírito de liderança e motivação junto aos companheiros.

Por toda essa trajetória, André Neves é o escolhido para Lucky Dog da quinzena. Durante a entrevista, o piloto e chefe de equipe relata como, tendo apenas 19 anos, assimilou a experiência de passar pelos choques de cultura de conviver com os costumes nortistas de Rondônia, a agitação cosmopolita da Grande São Paulo e o sossego interiorano de Adamantina.

Neves também conta como quase se profissionalizou na carreira de goleiro, tendo sido ajudado pelo jogador Deola, hoje no Palmeiras, a integrar o elenco sub-17 do Grêmio Barueri. “Pode não parecer, mas politicagem, esquemas de entregar jogo e fazer corpo mole são coisas que estão muito mais presentes no futebol do que o público imagina. Ver isso de dentro me fez largar a carreira antes que eu perdesse o amor pelo futebol”, confessa.

F1BC – Bom, Neves, você mora em Adamantina, São Paulo, e faz faculdade aí. Diga-nos qual seu curso.
André Neves – Atualmente eu curso direito nas Faculdades Adamantinenses Integradas e estou ainda no primeiro termo. Até pouco tempo atrás, eu era gerente de uma loja de assistência técnica de celulares. No momento, eu estou “vagal” igual ao Léo, mas estou no aguardo de um concurso público que vai ter aqui e estudando para, se Deus quiser, conseguir esse emprego.

F1BC – Concurso para qual cargo?
AN – Na verdade, como Adamantina é uma cidade pequena, não tem muitas opções de trabalho. O teto salarial é baixíssimo, diga-se de passagem – que é um problema do Brasil, por sinal, e aqui não é diferente. É um concurso público para a vaga de digitador de documentos para a prefeitura. E com isso eu vou ganhar bolsa integral na faculdade, além do salário que, com relação a qualquer outro aqui da cidade, é praticamente o dobro. Fora os privilégios de ser um trabalhador da prefeitura.

F1BC – Você está gostando do curso e pensa em seguir na área de direito? Se sim, em qual área?
AN – Com certeza. Esse gosto começou há um ano. Assim como todo adolescente, a gente chega não tão preparado, não com a cabeça feita para escolher uma área para seguir pelo resto da vida. De início, eu escolhi a área de jornalismo. Tanto que eu cheguei com 18 anos aqui em Adamantina e virei repórter do jornal aqui da cidade, um jornal que abrange 13 cidades de toda a região. E eu desbanquei pessoas que já eram até formadas em jornalismo. Então essa área é um forte meu, mas não era o que eu queria seguir. Direito é uma área em que você também precisa de boa leitura, boa escrita, se expressar em público e de uma postura mais formal. E isso aí, por ser algo que eu gosto, eu tenho. É uma área pela qual eu realmente me apaixonei. É um curso longo, são cinco anos. Mas acredito que vai dar tudo certo. Eu pretendo, sim, seguir na área e montar meu escritório de advocacia. E como, para fazer um concurso para o cargo de juiz, você precisa ser advogado por pelo menos três anos, então, com um escritório de advocacia, eu já mataria essa. E eu acredito que, com luta, determinação e estudo, dá para conseguir ser bem sucedido, por mais que a área de direito esteja saturada.

F1BC – Você mora em Adamantina, mas não é de Adamantina, né? Onde você nasceu?
AN – Dizem que vida de filho de militar é de nômade, e é realmente. Eu nasci em Lins, interior de São Paulo, perto de Bauru. Aos sete anos, eu mudei para Rondônia, porque meu pai foi transferido para lá. Morei lá de 99 ao comecinho de 2001. Foi um choque de cultura muito forte, principalmente para mim, que era criança, mas foi bacana pelo aprendizado e por conhecer pessoas novas, culturas novas. Dá para ter uma noção de como o Brasil é grande, porque é um estado totalmente diferente. Em 2001, eu voltei para Lins e, dois anos mais tarde, meu pai foi transferido para Barueri, na grande São Paulo. Outro choque de cultura, aquele frenesi de cidade grande. Foi ali que eu praticamente vivi toda minha adolescência, de 2003 até o finalzinho de 2009. Fiz ali ensino fundamental e ensino médio. Eu estudava em um colégio em Osasco, que fica ainda mais perto de São Paulo. E era uma aventura, cara. Você imagina só um adolescente de 15 anos, sem nada na cabeça, acordar 5h30, pegar um trem lotado e ir quase até São Paulo. Tanto que, por essa inocência, eu fui assaltado duas vezes. Teve até um dia que roubaram meu sorvete. Um cara passou e pediu um naco do meu sorvete, pegou e foi embora (risos).

F1BC – Puta merda.
AN – Não é brincadeira. Mas você tem que ir se adaptando. E, no fim de 2009, terminei o ensino médio e já pensava em prestar USP, Unesp, essas universidades mais fortes ali em São Paulo. Mas tudo caminhava para eu estudar na [Universidade] Anhembi Morumbi, que é uma universidade particular top ali de São Paulo. E eu ia me encaixar ali com uma bolsa-atleta, porque, quando eu tinha 16 anos, eu passei num teste para o Grêmio Barueri e fui goleiro titular do time sub-17 durante 2008 e comecinho de 2009. Conquistei o Campeonato Paulista Sub-17 em 2008 e tudo. Essa bolsa-atleta deixaria mais razoável a mensalidade da faculdade. Mas aí, meu pai foi transferido para Adamantina e eu vim junto, assim como fui com ele para todos os lugares onde ele foi.

F1BC – Mas foi só pela mudança de cidade que você abandonou a carreira de goleiro?
AN – Acredito que não. Talvez isso tenha me feito abandonar de vez. Mas o motivo principal é que, não só no Grêmio Barueri, onde eu joguei, mas em todo o futebol, assim como na Fórmula 1, há muita politicagem. Quando você consegue ver de dentro, você vê como é sujo e, talvez, o motivo principal [por ter largado a carreira] seja essa politicagem. Eu passei a ver o futebol não com o mesmo gosto e o mesmo prazer de quando eu quis me tornar profissional. Na época, eu tive até ajuda do Deola, que era goleiro do Barueri. Graças a ele, eu tive uma oportunidade de um teste privado no clube e eu consegui passar. O Deola hoje está no Palmeiras e eu não tenho tanto contato com ele, mas foi uma pessoa importante para a minha entrada no futebol. Mas, pela politicagem que envolve, quando você vê de dentro, eu preferi me afastar, até para não perder a paixão que eu tenho pelo futebol, assim como tenho pelo automobilismo.

F1BC – Você chegou a ser prejudicado ou preterido na equipe por causa disso ou foi algo que você via acontecer externamente?
AN – Não, mas eu presenciei situações muito constrangedoras para mim. Eu era o capitão do time, então todo o elenco do Barueri tinha um certo respeito por mim e eles meio que seguiam minha filosofia. Então eu presenciei algumas coisas constrangedoras que me fizeram ter uma sensação de impotência. Porque, dentro de campo, é você e seus companheiros dando o melhor pelo seu time. Mas, a partir do momento em que você vê que as pessoas do topo do time não querem que seu time ganhe, você vê que não é aquilo que você pensava. Não estou dizendo que isso acontece em todos os times, que são todos os diretores que agem dessa forma, mas aconteceu de um diretor dar uma ordem para entregar um jogo e não é algo que eu vá ficar no meio.

F1BC – Poderia informar que jogo foi esse e por que queriam a derrota? Era venda de resultado?
AN – Olha… Prefiro não falar o jogo que foi, até em respeito pelo Deola, porque ele me acompanhava em todos os jogos, me apoiava e me dava dicas, e também pelos meus antigos companheiros, que eu nem sei se estão ainda no Grêmio Barueri – que recentemente voltou para Barueri, né, depois de ter ido para Prudente. E não é algo raro no futebol. Isso de entregar jogo, fazer corpo mole, etc., está muito presente no futebol, bem mais do que as pessoas imaginam. Mas pediram para entregar o jogo não por venda de resultado, mas por interesse político, pura e simplesmente.

F1BC – Nessa época, você já tinha contato com o automobilismo virtual?
AN – Foi até algo engraçado, porque, junto com o [Gustavo] Tino, o [José] Schaeffer e o Fernando Lima, a gente fundou a OGP Racing, em dezembro de 2010. Mas eu conhecia o Tino desde 2009. Antes de saber que eu ia mudar para Adamantina, eu já o conhecia e ele mora a 10 km de Adamantina, aqui pertinho. Ele faz faculdade no mesmo lugar que eu, inclusive. Então foi uma coincidência do caramba eu ter me mudado para perto do Gustavo Tino. E em 2009 foi quando eu tive meu primeiro contato com o automobilismo virtual, no sentido de disputar campeonatos em ligas. Em 2003, quando foi lançado o F1 Challenge, eu comprei. Mas era algo para diversão, eu não levava com seriedade. De 2003 a 2008 eu levei como brincadeira, já que eu sempre acompanhei o automobilismo. Infelizmente não na época que eu queria. Nunca tive o prazer de ver ao vivo uma corrida com [Ayrton] Senna, [Nigel] Mansell, [Alain] Prost, Jackie Stewart, Nelson Piquet – o Piquet pelo lado mais fanfarrão, mas foi um grande piloto -, Emerson Fittipaldi, enfim, a época de ouro do Brasil na Fórmula 1. E em 2009 eu comecei a participar de um campeonato chamado OGP Series, de F1 Challenge, que era organizado pelo Tino e por todo esse pessoal que eu citei. Mas sorte que você não me conhecia na época, senão você ia me zoar muito, porque eu era o patinho feio da turma (risos).

F1BC – Me contaram já da sua habilidade naqueles tempos.
AN – Eu tomava muito tempo do pessoal nas corridas. Mas nesse ponto eles sempre foram muito legais comigo, sempre me deram muito apoio. E eu contei muito com o Ramon Lema, que inclusive foi vice-campeão do F1BC na Formula Junior, temporada 2010/2. O cara me ajudou muito e eu evoluí bastante. Depois, o Fernando Lima virou meu companheiro de equipe na OGP Series e me ajudou muito também. E é isso aí. Você pode não ser o piloto mais rápido, pode não ter talento, mas você não pode desistir, deixar de acreditar no seu potencial. É até uma frase que eu carrego comigo no carro e no capacete, “believe in yourself”. O pessoal pega no meu pé por causa disso, fala que é frase de emo, mas é algo em que eu acredito. Por mais que tirem sarro, mas se você não acreditar em você, você não vai chegar lá. Você tem que batalhar pelo seu objetivo e dar o seu melhor. Não só no AV, onde isso é importante também, mas na vida. Você não pode acreditar quando dizem que você não consegue algo. Você tem que ir lá e mostrar para você mesmo e para os outros que você consegue.

F1BC – Bonito isso. Agora, você falou que começou a disputar competições no AV em 2009. Quando você entrou no F1BC?
AN – Eu comecei no F1BC em maio de 2010. O Tino, que era dono da OGP Series, começou a correr na temporada 2010/1, na Formula Junior. O Tino foi contratado pela Alliance GP. Na época, a gente não conhecia de perto o F1BC, mas sabia do tamanho do clube e sabia do potencial que ele tinha como maior liga do Brasil. E surgiu um convite para que o pessoal da OGP Series fosse para a Alliance GP. Comecei na temporada 2/2010, na Formula Junior, e foi paixão à primeira vista. Eu corria junto com Ramon Lema, José Schaeffer e o Alexandre Albuquerque. Atualmente, o Albuquerque eu acredito que ainda esteja na Alliance, o Lema, depois de ser vice-campeão daquela temporada, se afastou um pouco do automobilismo virtual e o Schaeffer está com a gente [na OGP], disputando a Formula Pro. Eu estreei em Istambul e foi bacana, porque eu larguei em quinto, cheguei a liderar, mas aí veio a afobação, eu cometi vários erros e terminei em sexto. Mas foi legal não só pela corrida, mas pelo ambiente que o F1BC proporciona. O [Rodrigo] Wizard, junto com toda a organização, oferece um fórum muito completo, onde você pode acompanhar tudo o que acontece com o clube e debater sobre automobilismo real, virtual, enfim. É um mundo muito convidativo, o pessoal é muito companheiro e talvez por isso eu tenha gostado tanto. Eu comecei a ser um membro bem ativo do fórum, tanto que começaram a me chamar de spammer, de flooder… (risos).

F1BC – Era exatamente nisso que eu ia entrar. Você é uma lenda do fórum do F1BC, porque você era o cara que postava simplesmente em todos os tópicos. Você não tinha mais nada para fazer da vida, não (risos)?
AN – Na verdade, eu até tinha, mas eu reservava um tempo para participar do fórum do F1BC. Nessa época eu ainda corria lá de Barueri. Eu gostava bastante do fórum e queria ser um membro presente, que ajudasse de alguma forma. Eu lembro que, em meados de julho, agosto e até setembro de 2010, eu tive meu primeiro contato com o Wizard e mandei uma MP para ele dizendo que, se ele precisasse de alguém para ser moderador do fórum, eu estava lá, disposto a ajudar, no que precisasse. Porque eu gostei bastante do clube e tinha orgulho de participar do F1BC. Só que Wizard não me respondeu – pode colocar isso aí, que ele não me respondeu (risos).

F1BC – Ignorado por Rodrigo Wizard! É a cara dele fazer isso (risos).
AN – Mas eu continuei participativo no fórum e nos chats das transmissões. Eu estava em todas conversando com o pessoal, porque ainda tinha o chat que ficava embaixo da janela de transmissão [na TV F1BC], que é algo que hoje não tem mais. Terminei a temporada em 12º ou 13º na classificação e aí eu me desliguei da Alliance GP e fiquei por um tempo sem equipe. Depois, surgiu o convite para ir para a Grip, pelo Luis Moraes. Fiquei na equipe durante a temporada seguinte, mas não participei de nenhum campeonato. Eu ia participar da primeira etapa da Formula Pro, em Cingapura, se não me engano. Treinei bastante e não estava tão mais lento, só levando 2s da galera de ponta. Só que aí meu computador da Xuxa não aguentou e pediu arrego na hora da largada. Eu vi que estava travando muito e que ia colocar em risco os outros pilotos, então eu dei ESC, abandonei a Formula Pro. Eu cheguei a correr a etapa de Interlagos da Formula Classic, mas fui um desastre e fiquei só na narração. Foi minha temporada de estreia na cabine de transmissão da TV F1BC. Narrei a Formula Light, corrida de Cingapura também. E hoje eu sou narrador do F1BC. Narrei temporada 2010/3, a 2011/1 e estou narrando na 2011/2.

F1BC – Mas como você chegou a essa função? De onde surgiu a vontade e como você se preparou para isso?
AN – Não sei se você se lembra, mas é algo que vai te envolver. Não sei se você lembra, mas o Wizard divulgou no fórum do F1BC um tópico onde ele anunciava um concurso para quem queria ser o novo narrador do F1BC. Bastante gente participou e gravou vídeo narrando corrida. Eu tinha esse desejo de ajudar de alguma forma e a narração era algo que caía bem com o que eu poderia fazer, porque eu tenho uma boa comunicação – pelo menos minha mãe é minha fã, acho que o resto só aguenta. Meu pai, não. Meu pai já fala que é para parar de narrar, porque não é minha área (risos). Enfim, teve o concurso, eu não participei, mas postei no tópico que queria ser narrador e, no fim das contas, quem acabou entrando como narrador desse concurso foi você.

F1BC – Eu? Não, eu não entrei por esse concurso.
AN – Você não participou, mas, daquela vaga que abriu pelo concurso, foi você quem entrou.

F1BC – Caramba, quer dizer que eu trollei o concurso, então? Nem sabia dessa.
AN – Trollou o concurso (risos). Aí o Wizard mandou uma MP para mim perguntando se eu queria narrar. Eu respondi que seria uma honra e a gente combinou de fazer alguns testes para eu me preparar. Só que, por falta de tempo, talvez, não teve teste nenhum. E chegou a primeira etapa da Formula Light. Eu estava cru ainda, não tinha todos os macetes de uma narração. Porque narrar é uma coisa que, vendo de fora, até parece simples, mas é algo bem complexo. Então a primeira narração foi desastrosa. Mas, com o tempo, eu fui pegando as manhas. E, para mim, é uma terapia, cara. Eu posso estar com a cabeça cheia de problemas, mas quando eu sento na cadeira para transmitir uma corrida, é algo que me desestressa muito, que eu tenho paixão por fazer. Até o momento, só recebi 1.239 reclamações (risos), o que está abaixo do que eu esperava.

F1BC – reclamações por quê? Você manda bem na narração.
AN – Talvez por eu me contagiar demais com a corrida. Eu me envolvo muito com as disputas e, por incrível que pareça, não é forçado. Quando eu me exalto um pouco, é o que eu realmente estou sentindo. Eu me lembro de uma corrida de Indy Pro, da temporada 2010/3, não me recordo o circuito, que foi sensacional, muito bacana mesmo. E foi a corrida em que eu mais me exaltei. Teve uma hora que meu pai deu três socos na porta e gritou: “cala a boca!” (risos), mas tudo bem. Mas é o meu jeito e acho que é assim que tem que ser. Não pode ser exagerado, mas também não pode ser robotizado. Eu acho que você tem que mostrar o que está sentindo com a disputa na pista.

F1BC – Além de narrador, você também ajudou a fundar a equipe OGP, que, como você citou antes, vem de uma liga chamada OGP Series, formada em grande parte por pilotos que hoje fazem parte da OGP Racing. Como e por que surgiu a ideia de criar essa equipe?
AN – Lá no início de 2010, quando o Tino veio para o F1BC e logo em seguida viemos eu e mais outros pilotos da OGP Series, já tínhamos a idéia de criar a OGP Racing. No entanto, como estávamos vinculados à Alliance GP, esperamos uma boa oportunidade. Quando eu e o Cecin nos desligamos da equipe, em outubro de 2010, surgiu a possibilidade. Conversamos por quase um mês com o Tino e os outros pilotos vinculados à OGP de alguma forma e, mais precisamente no dia 3 de novembro, a equipe foi fundada. A sigla OGP é muito forte para todos nós. É muito mais que uma equipe, é praticamente uma família que surgiu há três anos. E é dessa forma que vemos cada um dos amigos que estão conosco, como uma pessoa indispensável e como parte fundamental dessa família.

F1BC – E vocês esperavam começar no F1BC já como uma das equipes fortes da liga, em termos de resultados?
AN – Absolutamente não. Quer dizer, sabíamos da qualidade e dedicação dos nossos pilotos, mas no clube existem inúmeras equipes grandes e promissoras. Acredito que os resultados não foram tão importantes quanto os laços que foram criados durante a temporada. Conhecemos cada um dos nossos pilotos e desenvolvemos uma amizade muito forte com todos. Esse quarto lugar entre as equipes do clube não é conquista de um piloto ou um quarteto, é uma conquista de todos nós e de todos que acreditaram na OGP, desde a sua fundação.

F1BC – Agora, relate para nós como foi sua primeira vitória no AV, na temporada passada, em Istambul, de Formula Junior, onde você chorou copiosamente na entrevista.
AN – Sabia que você ia me perguntar disso (risos). Era minha segunda temporada na Formula Junior, segunda etapa. A primeira prova tinha sido em Indianápolis e foi uma corrida desastrosa para mim. Então, por ser em Istambul a segunda corrida, onde foi minha estreia na Formula Junior, eu já tinha uma noção do circuito. E eu prometi para mim que ia me esforçar ao máximo. Eu queria conseguir meu primeiro pódio, porque eu nunca tinha ido ao pódio no automobilismo virtual. E eu dei muitas voltas na pista, virei noites treinando – você até me acompanhou em muitos desses treinos. Eu estava realmente focado no que eu queria. Fiz um tempo muito bom no treino de classificação, cerca de dois décimos mais rápido do que eu vinha fazendo, e esse tempo me deu a pole position. Inclusive o Diego Nogueira, que foi o campeão merecido da temporada, largou em segundo. Ali, eu sabia o que tinha que fazer, porque tinha treinado até esfolar os dedos: era largar bem e não errar. A largada foi muito boa, porque eu usei umas dicas que o Fernando Lima deu para e aquilo me ajudou a manter a primeira posição. Fui fazendo voltas mais rápidas em sequência e mantive a ponta por toda a prova. Mas aí, no final da corrida, quando eu já tinha uma boa vantagem, por volta de cinco segundos, eu realmente me desconcentrei. Passou um filme pela minha cabeça. Pode até ser exagerado isso para alguns, mas para mim, não. Vencer uma corrida nunca tinha passado pela minha cabeça. Eu comecei, sim, a chorar, lembrei de tudo o que eu passei para chegar até ali e a vantagem que eu tinha de cinco segundos terminou em dois segundos, de tanto que eu me desconcentrei. Realmente, eu fiquei bastante emocionado, porque foi o ápice da minha carreira de piloto virtual. Não consegui aguentar na entrevista e sou motivo de chacota até hoje por causa disso (risos). Mas eu só tenho que agradecer a todos que me ajudaram na época, inclusive a você, que foi meu companheiro de treinos e me incentivou um monte. Depois me zoou um monte também, mas faz parte (risos).